sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Modelos e avaliação do ensino superior a distância no Brasil

Modelos e avaliação do ensino superior a distância no Brasil
José Manuel Moran
Professor de Novas Tecnologias na USP (aposentado)
Diretor de Educação a Distância da Universidade Anhanguera-Uniderp
Publicado na Revista ETD – Educação Temática Digital da Unicamp, Vol. 10, Nº 2, 2009.
www.eca.usp.br/prof/moran
Resumo
O Brasil se encontra em uma fase de consolidação da educação a distância em todos os setores e níveis de ensino. Depois de uma fase de experimentação, onde houve uma aprendizagem intensa e busca de modelos mais adequados para cada instituição, nos encontramos em uma fase de amadurecimento, de maior regulação governamental, de maior cuidado com o crescimento, a infraestrutura, a metodologia de ensino, a avaliação. Os modelos predominantes são os de teleaula, videoaula e WEB com maior ou menor apoio local. A legislação atual no Brasil privilegia o modelo semi-presencial, com acompanhamento dos alunos perto de onde moram (em pólos) e mostra desconfiança pelo modelo de acompanhamento online, principalmente em cursos de graduação.
A educação a distância está se transformando, de uma modalidade complementar ou especial para situações específicas, em referência importante para uma mudança profunda do ensino superior como um todo. Este utilizará cada vez mais metodologias semi-presenciais,  flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos de ensino e aprendizagem.
Palavras chave: Educação a distância, ensino superior, teleaula, educação online, semi-presencial.
Abstract 

Brazil is in a consolidation phase of distance education in all sectors and levels of education. After a phase of experimentation, where there was an intense learning and search for more appropriate models for each institution, we are in a phase of maturity, more government regulation, more concern about growth, infrastructure, methodology of teaching and learning. The main models are “tele-class” (class satellite), online, video-class with more or less local support. A current legislation in Brazil favors the bimodal model, with close monitoring of students and shows the pattern of mistrust online monitoring, especially in undergraduate courses.

Distance education is becoming an important reference for a change of higher education as a whole. DE uses increasingly hybrid methodologies, making more flexible the need for physical presence, rearranging the spaces and times of teaching and learning.

Keywords: Distance education, higher education, class satellite, online education, bimodal education.
Depois de uma década de experimentação, o ensino superior a distância encontra-se numa fase de crescimento intenso, de consolidação pedagógica e de intensa regulação governamental, com diretrizes bem específicas.
A EAD é cada vez mais complexa, porque está crescendo em todos os campos, com modelos diferentes, rápida evolução das redes, mobilidade tecnológica, pela abrangência dos sistemas de comunicação digitais. EAD tem significados muito variados, que respondem a concepções e necessidades distintas. Denominamos EAD à educação continuada, ao treinamento em serviço, à formação supletiva, à formação profissional, à qualificação docente, à especialização acadêmica, à complementação dos cursos presenciais.
Além de ter significados, existem modelos bem diferentes que respondem a concepções pedagógicas e organizacionais distintas. Temos desde modelos auto-instrucionais a modelos colaborativos; modelos focados no professor (teleaula), no conteúdo, a outros centrados em atividades e projetos. Temos modelos para poucos alunos e modelos de massa para dezenas de milhares de alunos. Temos cursos com grande interação com o professor e outros com baixa interação. E não é fácil pensar em propostas que atendam a todas estas situações tão diferentes. Há um crescimento gigantesco dos cursos por satélite com teleaulas ao vivo e um tutor ou monitor presencial por sala, em pólos, mais apoio da Internet e de tutoria online. Essas instituições estão crescendo rapidamente chegando a dezenas de milhares de alunos rapidamente. É um modelo que mantém a figura do professor e a flexibilidade da auto-aprendizagem. Há cursos que combinam material impresso, CD/DVD e Internet. Há cursos para poucos e muitos alunos; cursos com menos ou mais encontros presenciais.
O importante é que EAD é educação e tem que ser de qualidade como a educação presencial. (Nascimento; Carnielli, 2007).  EaD de qualidade é aquela que ajuda o aluno a aprender igual ao presencial. Não se mede isso pelo número de alunos envolvidos, mas pela seriedade e coerência do projeto pedagógico, pela qualidade dos gestores e educadores e mediadores, sejam tutores ou qualquer palavra que se use. E também pelo envolvimento do aluno, se o aluno também está querendo aprender ou somente tirar o diploma. Envolve todo o processo, nisso não se diferencia do presencial. As instituições sérias no presencial costumam desenvolver também um trabalho a distância relativamente sério. E aquelas que são menos sérias, que focam mais os interesses econômicos no presencial, costumam ver a EaD como um caminho para poder ganhar mais e dinheiro ainda.  Alguns autores servem da base para a avaliação do ensino superior a distância no Brasil, entre eles se destacam:  Litto e Formiga (2009), Valente (2009), Almeida (2009), Gatti (2002), Silva (2003), e Oliveira e Oliveira (2009).
A EAD ainda é vista por muitos como uma solução pontual para situações específicas: pessoas mais adultas, que moram em cidades distantes ou que precisam de horários mais flexíveis do que nos cursos presenciais. Aos poucos se percebe que as atividades a distância são fundamentais para a aprendizagem atual, para atender a situações muito diferenciadas de uma sociedade cada vez mais complexa. A EAD, apesar do preconceito de muitos, é fundamental para modificar processos insuficientes e caros de ensinar para muitas pessoas ao longo da vida.

Modelos de EAD no Brasil no Ensino Superior
No Brasil, o ensino superior a distância só foi reconhecido com a Lei de Diretrizes e Bases de 1996. Só a partir de então avança. Nos primeiros anos as universidades atendem a demandas específicas, principalmente a capacitação de professores em serviço e os cursos de Pedagogia e Normal Superior. Foi uma etapa de aprendizagem das instituições públicas e privadas e também do Ministério de Educação. Surgiram situações novas como a possibilidade de atender por satélite a milhares de alunos ao mesmo tempo ou de dar um curso só pela Internet. (Alves, 2009)
Agora nos encontramos numa fase de consolidação da EAD no Brasil, principalmente no ensino superior. A educação a distância é política pública, com forte apoio governamental, o que não acontecia no começo. Cria-se em 2005 a UAB - um órgão do MEC que gerencia as iniciativas da EAD nas universidades públicas. Consolida-se uma política mais reguladora no MEC, com decretos e portarias que definem claramente o que é válido ou não. Por exemplo, na graduação é fundamental ter pólos perto do aluno, com infra-instrutora bem definida e apoio de tutoria presencial.
            Fundamentalmente temos três modelos principais de EAD no ensino superior no Brasil, com algumas variáveis e combinações: o modelo teleaula, o modelo videoaula e o modelo WEB.
 
  1. O modelo teleaula
Reúne os alunos em salas e um professor transmite uma ou duas aulas por semana, ao vivo. Os alunos enviam perguntas e o professor responde a algumas que considera mais importantes. Em geral, depois das teleaulas, os alunos se reúnem nas tele-salas, em pequenos grupos, para realizar algumas atividades de discussão e aprofundamento de questões relacionadas com a aula dada sob a supervisão de um mediador, chamado professor tutor local. Além das aulas, os alunos costumam receber material impresso e orientações de atividades para fazer durante a semana, individualmente, com o acompanhamento de um professor tutor online ou eletrônico.
Esse modelo começou focando mais a transmissão, a tecnologia de satélite, a multiplicação de pólos onde eram instaladas as tele-salas. As aulas são variações de professor falando, com ilustração de apresentações em PowerPoint, trechos de vídeo e alguma interação com a lousa digital. Os textos das aulas estão num livro impresso ou digital (CD, DVD ou Internet). Além das teleaulas e das atividades locais com o tutor de sala dos pólos, os alunos acessam (quando podem) o portal do curso na Internet, onde encontram alguns materiais complementares, e realizam alguma interação, em geral por fórum e enviam sua atividade para o tutor online. Houve um crescimento desordenado deste modelo, com a instalação de pólos em muitas cidades sem critérios definidos de parceria e sem padrões adequados de infra-estrutura exigidos. (Moran, 2008)
           Os tutores online são essenciais para acompanhamento das atividades dos alunos durante a semana. Eles assistem às aulas, acompanham os alunos nas atividades individuais e de grupo, tiram dúvidas dos alunos, devolvem com comentários as atividades realizadas que costumam ser disponibilizadas no portfólio eletrônico. Organizam os alunos em grupos para poder atendê-los melhor. Agendam chats com esses alunos.(Cortelazzo, 2007)
Os tutores de sala ficam nos pólos, perto dos alunos, para acompanhá-los nas atividades presenciais, durante as teleaulas e depois nas atividades de sala feitas em grupo. Durante a semana ajudam os alunos que vêm aos pólos, os ajudam na pesquisa nos laboratórios.
Uma figura que as instituições estão criando é a de Coordenador pedagógico do pólo para todos os cursos. Ele é o responsável institucional pelo bom andamento dos cursos no local, coordena as atividades dos tutores, supervisiona o funcionamento da infra-estrutura e a acadêmica.
Em relação à infra-estrutura, há uma exigência maior de bibliotecas no pólo, um livro para cada oito alunos, na bibliografia básica e uma proporção equivalente de computadores por número de alunos.  Também as instituições estão mais atentas a criar laboratórios específicos para cada curso, virtuais e físicos.
Com a regulamentação mais detalhada elaborada pelo MEC para autorização de cursos a distância e a delimitação da infra-estrutura necessária para os pólos , os cursos adquirem um caráter mais semipresencial, com maior apoio local e infra-estrutura mais adequada.
A partir de entrevistas com coordenadores pedagógicos de algumas instituições superiores que adotam o modelo teleaula, pude constatar avanços importantes que estão acontecendo na organização acadêmica e administrativa. Os principais são:
- Busca de aulas mais produzidas, com mais recursos de apoio (entrevistas, vídeos, animações, jogos). O modelo professor falando com apoio do PowerPoint está desgastado. Há uma valorização de maior participação dos alunos, de estabelecer vínculos com os pólos, de quebrar a aula com algumas atividades de discussão ou problematização intercaladas.
            - Depois da tele aula, é colocado um link dela disponível no ambiente virtual, para que os alunos possam rever a aula quando o acharem conveniente (em algumas instituições o link fica disponível por poucos dias, pode ser acessado no pólo ou pode ser adquirido no formato DVD da aula na biblioteca do pólo.
Além das teleaulas há um avanço em algumas instituições no pós- aula, em que o professor retoma alguns tópicos da teleaula e os amplia num segundo momento através de uma webaula, de um podcast ou recurso semelhante. É uma forma de reforço, ampliação e personalização da teleaula, para focá-la melhor, tirar dúvidas. Esse material está disponível para o aluno no ambiente digital do curso. Há uma ligação maior entre teleaula, a web ou áudio-aula e os estudos independentes. Academicamente o projeto está mais integrado agora do que no começo. Começa-se pela teleaula, o professor retoma as questões de uma forma mais dialógica e faz a integração com as atividades individuais de estudo e pesquisa. As instituições começam a perceber a importância de divulgar e re-utilizar mais as próprias produções dos alunos, principalmente as feitas em vídeo. São utilizadas como subsídio das teleaulas e muitas ficam disponibilizadas na biblioteca digital.
            - Há um melhor aproveitamento da cenografia. Alguns estúdios contam com equipamento de cenário virtual, que permite inserir o professor em ambientes relacionados com os temas da sua fala. Tem professores que representam personagens vinculados com o conteúdo, trazem profissionais para aproximar as idéias da experiência prática.
- Alguns professores desenvolvem formas de comunicação mais direta com os alunos: mobilizam os pólos com alusões diretas, com reorganização do espaço físico, com gincanas, concursos, sketches, representações, simulações.
Essa comunicação direta, ao vivo, é vista como grande diferencial neste modelo pelos coordenadores deste modelo de teleaula. Os alunos gostam de sentir o contato com o professor ao vivo, enviar-lhe perguntas, sentir-se incluído, mesmo que esporadicamente. Os alunos gostam desse contato com o professor, de saber-se citados, ver-se representados. Há uma certa mitificação do professor, os alunos os vêem como atores de TV. Tenho visto professores que eram contrários a esse modelo e que agora se sentem bem, porque reforça e amplia o seu papel de transmissor da informação e cria essa aura de visibilidade que a TV confere.
Os alunos manifestam o sentimento de participam de algo mais amplo que em uma aula presencial comum, porque compartilham questões com alunos de todo o país, podem confrontar visões com culturas diferentes. Esta interculturalidade poderia ser muito mais explorada, nas próprias teleaulas e no ambiente virtual.
O recurso de webconferência ou de áudio conferência pode ser útil para orientação de grupos, para tirar algumas dúvidas, para orientação de estágio e TCC. Trabalhos de apresentação de alunos podem ser realizados também dessa forma. Algumas instituições já realizam a defesa da monografia em cursos de pós-graduação através de programas de webconferência, o que permite a conexão em tempo real e a possibilidade de cada um conectar-se onde o considerar mais conveniente.
Apesar dos avanços mostrados pelos coordenadores desses cursos por teleaula, observamos que privilegiam a transmissão da informação pelo professor numa época em que a informação está disponível por várias mídias e que o papel do professor pode ser muito mais importante se ele se transforma em orientador, em contextualizador das questões dos alunos.
Um enfoque diferente do modelo de teleaula poderia inverter o processo. Pode ser um ponto de chegada e não só um ponto de partida da informação. Os alunos tomam contato com um assunto a partir de alguns materiais prévios (impressos, em áudio e vídeo), realizam algumas atividades de compreensão e pesquisa individualmente e em grupo. Discutem essas questões com os tutores e encaminham os resultados da pesquisa e as questões principais para o professor que na teleaula avalia todo o processo e traz contribuições específicas para aqueles grupos naquele momento.
Quanto à organização curricular, predomina o modelo disciplinar, mas também se trabalha por módulos. Algumas trabalham uma disciplina por vez (em geral, uma por mês), enquanto outras alternam duas disciplinas, para dar mais variedade para o aluno (a avaliação parcial, costuma ser bimestral e ao fim do semestre é feita a avaliação de todas as disciplinas. As que organizam as disciplinas sequencialmente costumam fazer uma avaliação presencial ao termino de cada uma (em média, uma vez por mês) e evitam a avaliação geral semestral. Houve até agora predomínio na avaliação presencial da múltipla escolha. Atualmente predominam as questões dissertativas. Algumas instituições combinam questões objetivas com questões dissertativas. A avaliação presencial sempre tem um peso maior (exigência do MEC) e varia entre 60 e 80 por cento do valor da nota ou conceito final. Os alunos são avaliados nas atividades a distância e em sala. Existem atividades que são preparatórias para a avaliação online principal. Duas são mais freqüentes:  a qualidade da contribuição aos fóruns e o portfólio eletrônico ou físico, que recolhe os principais trabalhos desenvolvidos.
No sistema modular, Em geral, desenvolvem-se três módulos por semestre. Cada módulo com dois ou três professores. Um módulo, em média, trabalha quatro temas. São utilizados em algumas instituições que trabalham por módulos, de 6 a 8 professores por semestre.
  1. O modelo WEB
Hoje quase todos os cursos superiores a distância utilizam a Internet em algum momento, mas há instituições que têm na Internet o principal suporte. Os cursos de curta duração podem ser realizados inteiramente online, já nos superiores, principalmente de graduação, há hoje uma forte pressão pelo modelo-semipresencial.
O modelo WEB foca o conteúdo disponibilização pela Internet e por CD ou DVD também. Além do material na WEB os alunos costumam ter material impresso por disciplina ou módulo. Os ambientes principais de aprendizagem são o Moodle, o Blackboard e o Teleduc. Algumas instituições têm o seu próprio ambiente digital de aprendizagem. Começa-se a utilizar a webconferência para alguns momentos de interação presencial com os alunos, para orientações, dúvidas e manutenção de vínculos afetivos.
Até agora temos basicamente dois modelos diferentes de ensino superior a distância via web: o modelo mais virtual e o modelo semi-presencial. No modelo virtual, a orientação dos alunos é feita à distância pela Internet ou telefone. Os alunos se reportam ao professor e ao tutor durante o semestre e geralmente se encontram presencialmente só para fazer as avaliações. É um modelo predominantemente onde tudo acontece na Internet e os encontros presenciais são mais espaçados, porque não existem os pólos para o apoio semanal.
No modelo semi-presencial, como os do Consórcio CEDERJ das universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro, os alunos têm pólos perto de onde moram e, além do tutor online, têm o tutor presencial no pólo, com quem pode tirar dúvidas e participar das atividades solicitadas e dos laboratórios de informática e específicos do curso. Esse modelo é replicado pelas universidades públicas, sob a gestão da UAB – Universidade Aberta do Brasil, que fazem parceria com as prefeituras para a instalação dos pólos de apoio presenciais.
Nesta fase de regulação maior da EAD, há uma pressão forte para que todas as instituições que atuam no ensino superior a distância, principalmente na graduação, revejam seus projetos pedagógicos e se adaptem ao modelo semi-presencial, com pólos presenciais mais estruturados e atuantes, de acordo com as normas legais atuais, que se expressam nos instrumentos de credenciamento, autorização de cursos a distância e de autorização de pólos. As instituições que atuam no modelo de atendimento online via WEB, utilizando os pólos para avaliação presencial, terão que adaptar-se a estas normas – enquanto não houver mudanças - para obter o recredenciamento ou o reconhecimento dos cursos.
  1. O modelo videoaula
Há instituições no ensino superior cujo projeto pedagógico foca mais a produção audiovisual e impressa pronta, não ao vivo. Produzem as aulas em estúdio, com mais ou menos profissionalismo.
Também há dois modelos predominantes utilizando a videoaula, um semi-presencial e outro online.
O modelo mais usual é o de tele-salas, onde o aluno vai presencialmente uma ou várias vezes por semana e um tutor  supervisiona a exibição do vídeo e as atividades relacionadas ao conteúdo da disciplina. Tira dúvidas, sob a coordenação de um professor responsável por essa disciplina. Este modelo é muito útil principalmente para cidades pequenas, sem condições para a instalação de uma instituição de ensino superior presencial.
Outro modelo é com vídeoaulas que os alunos acessam via WEB ou recebem por cd ou DVD. Os alunos assistem as videoaulas em casa ou no trabalho, lêem o material impresso e fazem as atividades que são entregues a um tutor –on line, num ambiente de aprendizagem digital, em geral o Moodle. Os alunos só vão a um pólo para a avaliação online. Os modelos de videoaula que utilizam mais a WEB – em geral o Moodle – como ambiente de aprendizagem e de interação, precisam rever o seu projeto à luz das normas atuais legais, focando muito mais o apoio também local ao longo do curso e não só na avaliação.
As exigências atuais de infra-estrutura do MEC de pólos com muito mais recursos, dificultam o atendimento a essas pequenas populações. Os alunos terão que se deslocar muito mais do que antes.
O modelo semi-presencial é muito utilizado nos cursos de pedagogia e licenciaturas. Ele precisa adaptar-se também, como os anteriores, às normas vigentes. A infra-estrutura de apoio administrativa, tecnológica e acadêmica, costuma ser precária, com poucos computadores, biblioteca diminuta, o tutor sozinho com os alunos.
Algumas questões do ensino superior a distância no Brasil
Só um modelo é válido?
Se em outros países, com mais tradição em EAD, como a Inglaterra, a Espanha, a Austrália há diversos modelos, se cada universidade pode definir sua forma de atuar em EAD e os resultados, nas principais universidades, são satisfatórios, por que nós devemos centrar-nos num modelo semi-presencial como condição indispensável para o reconhecimento legal?
O Prof. Vianney mostra que os alunos da Open University conseguem ser classificados entre os das cinco melhores instituições Inglaterra, e as diversas faculdades têm bastante flexibilidade para organizar os diversos cursos a distância. (Vianney, 2008). A Open University atua desde a década de setenta e escolhe bons professores para escrever e gerenciar os seus cursos. A diversidade metodológica não é obstáculo. O importante é ter um bom projeto pedagógico e bons professores, com boas condições de trabalho.
Num estudo feito pelo Prof. Dilvo Ristoff , quando diretor do INEP, comparou o desempenho dos alunos dos mesmos cursos nas modalidades a distância e presencial do ENADE (2005-2006). Em sete das 13 áreas onde essa comparação é possível, alunos da modalidade a distância se saíram melhor do que os demais. Quando a análise é feita apenas levando em conta os alunos que ainda estão na fase inicial do curso - o Enade permite separar o desempenho de ingressantes e concluintes-, o quadro é ainda mais favorável ao ensino a distância: em nove das 13 áreas o resultado foi melhor. Nesses casos, turismo e ciências sociais apresentaram a maior vantagem favorável aos cursos a distância. Geografia e história foram os cursos em que o ensino presencial apresentou melhor desempenho.
Na Alemanha, o professor Wolfram Laaser da FernÜniversitat da Alemanha, em palestras na Universidade Federal de Santa Catarina, mostra que comparando as trajetórias profissionais dos alunos concluintes presenciais e a distância, após vinte anos, numa mesma organização, os que tinham feito seus cursos a distância ocupavam funções mais destacadas. Os fatores considerados para compreender este fenômeno eram os da autonomia e da determinação necessária aos alunos para poder acompanhar as exigências de estudos autônomos, característica dos cursos a distância daquela universidade. (Vianney, 2008).
O MEC, preocupado com a qualidade, propõe parâmetros para organizar um processo em expansão rápida e com algumas instituições com mais preocupação mercadológica do que pedagógica. Isso é fundamental, mas está insistindo no modelo semi-presencial, apoiado por pólos locais, com freqüência semanal dos alunos, como o único válido atualmente. É preocupante.
É possível aprender a distância de várias formas. No Brasil, estamos ainda numa fase de mudanças profundas na educação a distância, pela evolução rápida das tecnologias em rede, das tecnologias móveis e pela necessidade de incluir o maior número de alunos possível no ensino técnico e no superior. Num país com tantas necessidades e diversidade, é importante poder ter projetos consistentes com propostas diferentes, que sejam bem acompanhados e avaliados.
Tensões entre o econômico e o pedagógico
Há muitas contradições e tensões na educação. As principais se devem a que em alguns momentos focamos a educação mais como direito – educação para todos – enquanto que, em outros, o foco é a educação como negócio – como bem econômico, serviço, que se compra e vende, se organiza como empresa e onde se busca a maior rentabilidade, lucro e retorno do investimento.
Há instituições que vêem a EAD mais como negócio, mercado e investimento e todos os esforços são direcionados para a ocupação rápida do mercado, para a rentabilidade máxima dos acionistas, para ter um baixo custo aluno. Há instituições que focam o curto prazo e outras, o longo prazo. Em educação o sucesso de curto prazo pode ser traiçoeiro, porque projetos que atraem muitos alunos, se mal avaliados, afastam novas inscrições.
Estamos numa fase de profundas transformações, que nos estão levando a re-organizar todos os processos de ensino e aprendizagem, incluindo atividades a distância, flexibilidade curricular, possibilidade de cursos online em qualquer lugar e a qualquer hora. Se predominar a concepção administrativa sobre a pedagógica, poderemos criar com tecnologias novas processos velhos ampliados. Há uma certa apropriação das tecnologias avançadas hoje para a multiplicação de processos conservadores, focados no conteúdo transmitido ou disponibilizado, pela substituição do professor pelo “tutor” (mais barato) e pelo enxugamento de custos e maximização de lucros.
É importante estarmos atentos como educadores e como sociedade a re-equilibrar a educação como direito e como negócio, a buscar inovações na gestão, mas com foco na aprendizagem significativa, humanística, afetiva e com valores sólidos. Temos que inovar, avançar, criar uma educação mais próxima do aluno de hoje e das possibilidades de uma sociedade conectada, mantendo os valores humanos, afetivos e éticos cada vez mais vivos e predominantes. Podem conviver a  educação como direito e como negócio, de forma equilibrada. Mas é bom estarmos atentos como sociedade a que a racionalidade administrativa não se sobreponha à pedagógica. 
A exigência da avaliação presencial
 Uma questão que precisa ser melhor analisada é a exigência legal de que a avaliação principal de um curso a distância seja presencial e que tenha um peso maior do que as avaliações feitas durante o curso.  Em primeiro lugar, focar o peso da avaliação num momento presencial contradiz os projetos pedagógicos de muitos cursos que se dizem construtivistas e interacionistas, e que afirmam que o importante é a avaliação em processo (formativa) e não a pontual (somativa). E, em segundo lugar, se evidencia uma contradição gritante e preconceito contra a educação a distância ao exigir que num curso a distância a avaliação seja presencial. Entendemos os motivos das possibilidades de fraude a distância, assim como os há também no presencial, mas não se pode impedir – legalmente - que um curso a distância possa ser totalmente online, como acontece em muitos países. Hoje há recursos confiáveis de verificação e de acompanhamento digital dos alunos. (Silva; Silva, 2008)
O curioso é que muitas instituições não estão de acordo com a necessidade das avaliações serem presenciais, mas as reduzem a provas de múltipla escolha. O MEC fala em avaliações presenciais, não em provas necessariamente. Poderiam ser realizadas, nesses momentos presenciais, diferentes atividades como seminários, apresentação de resultados de projetos, discussões orais e muitas outras, além de provas. 
Para onde caminhamos no ensino superior
Estamos diante de muitas mudanças, em uma fase em que temos que repensar a educação como um todo, em todos os níveis e a legislação da educação a distância é bastante detalhista e restritiva. Precisamos ter sensibilidade legal para evitar uma asfixia burocrática numa fase de grandes mudanças, e ao mesmo tempo sinalizar alguns limites para cada momento histórico. Estamos numa área onde conceitos como o de espaço, tempo, presença (física/virtual) são muito mais complexos e que exigem uma atenção redobrada para superar modelos convencionais, que costumam servir como parâmetro para avaliar situações novas.
Estamos caminhando para uma etapa de uma integração muito maior entre o presencial e o virtual. Algumas instituições já perceberam que a flexibilidade é inevitável. Propõem cursos que podem ser feitos presencialmente ou a distância, com maior integração e, às vezes, sem que o aluno perceba que é um curso a distância. Os cursos presenciais terão cada vez mais atividades a distância em proporção superior à atual, de forma que perderá sentido a separação entre o presencial e o a distância, como acontece até agora.
O semi-presencial é o modelo mais viável para a maioria das escolas nos próximos anos para alunos que moram perto do campus. Em todos os níveis de ensino teremos momentos juntos e atividades personalizadas de inserção em projetos, práticas, pesquisa combinadas com atividades de interação, de colaboração. Todas as universidades e organizações educacionais, em todos os níveis, precisam experimentar novas soluções para cada situação, curso, grupo e os legisladores serem cautelosos na normatização para não inviabilizar os avanços necessários na EAD.
Dependendo do projeto pedagógico do curso, da instituição, da idade do aluno haverá diferentes formatos de curso, níveis de flexibilidade, de orientação. Mas todos terão muitos menos presença física do que há hoje, menos horários rígidos como acontece atualmente.
O semi-presencial avançará, porque se adapta muito mais à nova sociedade aprendente, conectada; porque as crianças e jovens já têm uma relação com a Internet, as redes, o celular e a multimídia muito mais familiar do que os adultos. O semi-presencial já é uma experiência vivida em muitas outras situações por eles. A escola é que não os está acompanhando. O semi-presencial avançará também porque para os mantenedores das escolas reduzirá custos de utilização de infra-estrutura, de ocupação de espaço, de horas aula de professores. E a legislação precisa possibilitar esta flexibilidade das formas de ensino e aprendizagem que mais se adaptem às necessidades de cada pessoa e grupo em todos os níveis de ensino.
A legislação não consegue prever essas mudanças. Por isso é importante permitir propostas inovadoras, acompanhá-las, avaliá-las para poder avançarmos mais rapidamente. A legislação pode trabalhar com parâmetros, princípios – em decretos - sem chegar a minúcias que podem trazer problemas de interpretação e impedir avanços significativos e que podem ser normatizados em portarias.. Precisamos regular com mais abertura para o novo e supervisionar o que acontece mais de perto para avançar de verdade e separar o joio do trigo, os que querem contribuir para um ensino e aprendizagem de qualidade dos que só querem lucrar com qualquer tipo de ensino, seja presencial ou a distância.
A educação a distância está se transformando, de uma modalidade complementar ou especial para situações específicas, em referência para uma mudança profunda do ensino superior como um todo. Este utilizará cada vez mais metodologias semi-presenciais,  flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos de ensino e aprendizagem. A educação a distância está se expandindo, sem dúvida, mas também afetando profundamente à educação como um todo. Num mundo conectado em redes, onde aumenta a mobilidade, a educação a distância hoje passou de uma modalidade complementar a ser eixo norteador das mudanças profundas da educação como um todo, principalmente no ensino superior.

 

Referências

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ALVES, João Roberto. A história da EAD no Brasil. In LITTO, Fredric; FORMIGA, Marcos (orgs). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.p.9-13.

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GATTI, Bernardette. A Formação de professores a distância: Critérios de qualidade. Disponível em: < http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/ead/eadtxt1b.htm >. Acesso em: 3 ago. 2008.
LITTO, Fredric; FORMIGA, Marcos (orgs). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009.
MORAN, José Manuel. A educação a distância e os modelos educacionais na formação dos professores.  In: BONIN, Iara et al. Trajetórias e processos de ensinar e aprender: políticas e tecnologias.  Porto Alegre: Edipucrs, 2008.  Cap. 4, p. 245-259. (XIV Endipe).
NASCIMENTO, Francisco; CARNIELLI, Beatrice L. Educação a distância no ensino superior: expansão com qualidade? Etd - Educação Temática Digital, Campinas, v. 9, n. 1, p.84-98, nov. 2007.
OLIVEIRA, Teresinha Zélia; OLIVEIRA, Paulo Cezar. Perspectivas sociais e políticas da ead no brasil: Uma visão panorâmica com foco na produção científica para o setor. Disponível em: <http://twiki.im.ufba.br/pub/Main/PauloCezarOliveira/artigo_ead_pctz.doc >. Acesso em 3 fev. 2009.
SILVA, Ângela; SILVA, Christina. Avaliação da aprendizagem em ambientes virtuais: rompendo as barreiras da legislação. Trabalho apresentado no Congresso da ABED de 2008 em Santos - SP. Disponível em: <www.abed.org.br/congresso2008/tc/510200863228PM.pdf >. Acesso em 20 jan. 2009.
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VALENTE, José Armando. Aprendizagem por computador sem ligação à rede. In LITTO, Predric; FORMIGA, Marcos (orgs). Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. p.65-71.
VIANNEY, João. A ameaça de um modelo único para a EaD no brasil a ameaça de um modelo único para a EaD no Brasil. Colabor@ - Revista Digital da CVA-RICESU, vol. 5 – nº 17, julho 2008. Disponível em <http://www.ricesu.com.br/colabora/n17/index1.htm> Acesso em 16 fevereiro 2009.
José Manuel Moran
Professor de Novas Tecnologias na USP (aposentado)
Diretor de Educação a Distância da Universidade Anhanguera-Uniderp
Publicado na Revista ETD – Educação Temática Digital da Unicamp, Vol. 10, Nº 2, 2009.
www.eca.usp.br/prof/moran
Resumo
O Brasil se encontra em uma fase de consolidação da educação a distância em todos os setores e níveis de ensino. Depois de uma fase de experimentação, onde houve uma aprendizagem intensa e busca de modelos mais adequados para cada instituição, nos encontramos em uma fase de amadurecimento, de maior regulação governamental, de maior cuidado com o crescimento, a infraestrutura, a metodologia de ensino, a avaliação. Os modelos predominantes são os de teleaula, videoaula e WEB com maior ou menor apoio local. A legislação atual no Brasil privilegia o modelo semi-presencial, com acompanhamento dos alunos perto de onde moram (em pólos) e mostra desconfiança pelo modelo de acompanhamento online, principalmente em cursos de graduação.
A educação a distância está se transformando, de uma modalidade complementar ou especial para situações específicas, em referência importante para uma mudança profunda do ensino superior como um todo. Este utilizará cada vez mais metodologias semi-presenciais,  flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos de ensino e aprendizagem.
Palavras chave: Educação a distância, ensino superior, teleaula, educação online, semi-presencial.
Abstract 

Brazil is in a consolidation phase of distance education in all sectors and levels of education. After a phase of experimentation, where there was an intense learning and search for more appropriate models for each institution, we are in a phase of maturity, more government regulation, more concern about growth, infrastructure, methodology of teaching and learning. The main models are “tele-class” (class satellite), online, video-class with more or less local support. A current legislation in Brazil favors the bimodal model, with close monitoring of students and shows the pattern of mistrust online monitoring, especially in undergraduate courses.

Distance education is becoming an important reference for a change of higher education as a whole. DE uses increasingly hybrid methodologies, making more flexible the need for physical presence, rearranging the spaces and times of teaching and learning.

Keywords: Distance education, higher education, class satellite, online education, bimodal education.
Depois de uma década de experimentação, o ensino superior a distância encontra-se numa fase de crescimento intenso, de consolidação pedagógica e de intensa regulação governamental, com diretrizes bem específicas.
A EAD é cada vez mais complexa, porque está crescendo em todos os campos, com modelos diferentes, rápida evolução das redes, mobilidade tecnológica, pela abrangência dos sistemas de comunicação digitais. EAD tem significados muito variados, que respondem a concepções e necessidades distintas. Denominamos EAD à educação continuada, ao treinamento em serviço, à formação supletiva, à formação profissional, à qualificação docente, à especialização acadêmica, à complementação dos cursos presenciais.
Além de ter significados, existem modelos bem diferentes que respondem a concepções pedagógicas e organizacionais distintas. Temos desde modelos auto-instrucionais a modelos colaborativos; modelos focados no professor (teleaula), no conteúdo, a outros centrados em atividades e projetos. Temos modelos para poucos alunos e modelos de massa para dezenas de milhares de alunos. Temos cursos com grande interação com o professor e outros com baixa interação. E não é fácil pensar em propostas que atendam a todas estas situações tão diferentes. Há um crescimento gigantesco dos cursos por satélite com teleaulas ao vivo e um tutor ou monitor presencial por sala, em pólos, mais apoio da Internet e de tutoria online. Essas instituições estão crescendo rapidamente chegando a dezenas de milhares de alunos rapidamente. É um modelo que mantém a figura do professor e a flexibilidade da auto-aprendizagem. Há cursos que combinam material impresso, CD/DVD e Internet. Há cursos para poucos e muitos alunos; cursos com menos ou mais encontros presenciais.
O importante é que EAD é educação e tem que ser de qualidade como a educação presencial. (Nascimento; Carnielli, 2007).  EaD de qualidade é aquela que ajuda o aluno a aprender igual ao presencial. Não se mede isso pelo número de alunos envolvidos, mas pela seriedade e coerência do projeto pedagógico, pela qualidade dos gestores e educadores e mediadores, sejam tutores ou qualquer palavra que se use. E também pelo envolvimento do aluno, se o aluno também está querendo aprender ou somente tirar o diploma. Envolve todo o processo, nisso não se diferencia do presencial. As instituições sérias no presencial costumam desenvolver também um trabalho a distância relativamente sério. E aquelas que são menos sérias, que focam mais os interesses econômicos no presencial, costumam ver a EaD como um caminho para poder ganhar mais e dinheiro ainda.  Alguns autores servem da base para a avaliação do ensino superior a distância no Brasil, entre eles se destacam:  Litto e Formiga (2009), Valente (2009), Almeida (2009), Gatti (2002), Silva (2003), e Oliveira e Oliveira (2009).
A EAD ainda é vista por muitos como uma solução pontual para situações específicas: pessoas mais adultas, que moram em cidades distantes ou que precisam de horários mais flexíveis do que nos cursos presenciais. Aos poucos se percebe que as atividades a distância são fundamentais para a aprendizagem atual, para atender a situações muito diferenciadas de uma sociedade cada vez mais complexa. A EAD, apesar do preconceito de muitos, é fundamental para modificar processos insuficientes e caros de ensinar para muitas pessoas ao longo da vida.

Modelos de EAD no Brasil no Ensino Superior
No Brasil, o ensino superior a distância só foi reconhecido com a Lei de Diretrizes e Bases de 1996. Só a partir de então avança. Nos primeiros anos as universidades atendem a demandas específicas, principalmente a capacitação de professores em serviço e os cursos de Pedagogia e Normal Superior. Foi uma etapa de aprendizagem das instituições públicas e privadas e também do Ministério de Educação. Surgiram situações novas como a possibilidade de atender por satélite a milhares de alunos ao mesmo tempo ou de dar um curso só pela Internet. (Alves, 2009)
Agora nos encontramos numa fase de consolidação da EAD no Brasil, principalmente no ensino superior. A educação a distância é política pública, com forte apoio governamental, o que não acontecia no começo. Cria-se em 2005 a UAB - um órgão do MEC que gerencia as iniciativas da EAD nas universidades públicas. Consolida-se uma política mais reguladora no MEC, com decretos e portarias que definem claramente o que é válido ou não. Por exemplo, na graduação é fundamental ter pólos perto do aluno, com infra-instrutora bem definida e apoio de tutoria presencial.
            Fundamentalmente temos três modelos principais de EAD no ensino superior no Brasil, com algumas variáveis e combinações: o modelo teleaula, o modelo videoaula e o modelo WEB.
 
  1. O modelo teleaula
Reúne os alunos em salas e um professor transmite uma ou duas aulas por semana, ao vivo. Os alunos enviam perguntas e o professor responde a algumas que considera mais importantes. Em geral, depois das teleaulas, os alunos se reúnem nas tele-salas, em pequenos grupos, para realizar algumas atividades de discussão e aprofundamento de questões relacionadas com a aula dada sob a supervisão de um mediador, chamado professor tutor local. Além das aulas, os alunos costumam receber material impresso e orientações de atividades para fazer durante a semana, individualmente, com o acompanhamento de um professor tutor online ou eletrônico.
Esse modelo começou focando mais a transmissão, a tecnologia de satélite, a multiplicação de pólos onde eram instaladas as tele-salas. As aulas são variações de professor falando, com ilustração de apresentações em PowerPoint, trechos de vídeo e alguma interação com a lousa digital. Os textos das aulas estão num livro impresso ou digital (CD, DVD ou Internet). Além das teleaulas e das atividades locais com o tutor de sala dos pólos, os alunos acessam (quando podem) o portal do curso na Internet, onde encontram alguns materiais complementares, e realizam alguma interação, em geral por fórum e enviam sua atividade para o tutor online. Houve um crescimento desordenado deste modelo, com a instalação de pólos em muitas cidades sem critérios definidos de parceria e sem padrões adequados de infra-estrutura exigidos. (Moran, 2008)
           Os tutores online são essenciais para acompanhamento das atividades dos alunos durante a semana. Eles assistem às aulas, acompanham os alunos nas atividades individuais e de grupo, tiram dúvidas dos alunos, devolvem com comentários as atividades realizadas que costumam ser disponibilizadas no portfólio eletrônico. Organizam os alunos em grupos para poder atendê-los melhor. Agendam chats com esses alunos.(Cortelazzo, 2007)
Os tutores de sala ficam nos pólos, perto dos alunos, para acompanhá-los nas atividades presenciais, durante as teleaulas e depois nas atividades de sala feitas em grupo. Durante a semana ajudam os alunos que vêm aos pólos, os ajudam na pesquisa nos laboratórios.
Uma figura que as instituições estão criando é a de Coordenador pedagógico do pólo para todos os cursos. Ele é o responsável institucional pelo bom andamento dos cursos no local, coordena as atividades dos tutores, supervisiona o funcionamento da infra-estrutura e a acadêmica.
Em relação à infra-estrutura, há uma exigência maior de bibliotecas no pólo, um livro para cada oito alunos, na bibliografia básica e uma proporção equivalente de computadores por número de alunos.  Também as instituições estão mais atentas a criar laboratórios específicos para cada curso, virtuais e físicos.
Com a regulamentação mais detalhada elaborada pelo MEC para autorização de cursos a distância e a delimitação da infra-estrutura necessária para os pólos , os cursos adquirem um caráter mais semipresencial, com maior apoio local e infra-estrutura mais adequada.
A partir de entrevistas com coordenadores pedagógicos de algumas instituições superiores que adotam o modelo teleaula, pude constatar avanços importantes que estão acontecendo na organização acadêmica e administrativa. Os principais são:
- Busca de aulas mais produzidas, com mais recursos de apoio (entrevistas, vídeos, animações, jogos). O modelo professor falando com apoio do PowerPoint está desgastado. Há uma valorização de maior participação dos alunos, de estabelecer vínculos com os pólos, de quebrar a aula com algumas atividades de discussão ou problematização intercaladas.
            - Depois da tele aula, é colocado um link dela disponível no ambiente virtual, para que os alunos possam rever a aula quando o acharem conveniente (em algumas instituições o link fica disponível por poucos dias, pode ser acessado no pólo ou pode ser adquirido no formato DVD da aula na biblioteca do pólo.
Além das teleaulas há um avanço em algumas instituições no pós- aula, em que o professor retoma alguns tópicos da teleaula e os amplia num segundo momento através de uma webaula, de um podcast ou recurso semelhante. É uma forma de reforço, ampliação e personalização da teleaula, para focá-la melhor, tirar dúvidas. Esse material está disponível para o aluno no ambiente digital do curso. Há uma ligação maior entre teleaula, a web ou áudio-aula e os estudos independentes. Academicamente o projeto está mais integrado agora do que no começo. Começa-se pela teleaula, o professor retoma as questões de uma forma mais dialógica e faz a integração com as atividades individuais de estudo e pesquisa. As instituições começam a perceber a importância de divulgar e re-utilizar mais as próprias produções dos alunos, principalmente as feitas em vídeo. São utilizadas como subsídio das teleaulas e muitas ficam disponibilizadas na biblioteca digital.
            - Há um melhor aproveitamento da cenografia. Alguns estúdios contam com equipamento de cenário virtual, que permite inserir o professor em ambientes relacionados com os temas da sua fala. Tem professores que representam personagens vinculados com o conteúdo, trazem profissionais para aproximar as idéias da experiência prática.
- Alguns professores desenvolvem formas de comunicação mais direta com os alunos: mobilizam os pólos com alusões diretas, com reorganização do espaço físico, com gincanas, concursos, sketches, representações, simulações.
Essa comunicação direta, ao vivo, é vista como grande diferencial neste modelo pelos coordenadores deste modelo de teleaula. Os alunos gostam de sentir o contato com o professor ao vivo, enviar-lhe perguntas, sentir-se incluído, mesmo que esporadicamente. Os alunos gostam desse contato com o professor, de saber-se citados, ver-se representados. Há uma certa mitificação do professor, os alunos os vêem como atores de TV. Tenho visto professores que eram contrários a esse modelo e que agora se sentem bem, porque reforça e amplia o seu papel de transmissor da informação e cria essa aura de visibilidade que a TV confere.
Os alunos manifestam o sentimento de participam de algo mais amplo que em uma aula presencial comum, porque compartilham questões com alunos de todo o país, podem confrontar visões com culturas diferentes. Esta interculturalidade poderia ser muito mais explorada, nas próprias teleaulas e no ambiente virtual.
O recurso de webconferência ou de áudio conferência pode ser útil para orientação de grupos, para tirar algumas dúvidas, para orientação de estágio e TCC. Trabalhos de apresentação de alunos podem ser realizados também dessa forma. Algumas instituições já realizam a defesa da monografia em cursos de pós-graduação através de programas de webconferência, o que permite a conexão em tempo real e a possibilidade de cada um conectar-se onde o considerar mais conveniente.
Apesar dos avanços mostrados pelos coordenadores desses cursos por teleaula, observamos que privilegiam a transmissão da informação pelo professor numa época em que a informação está disponível por várias mídias e que o papel do professor pode ser muito mais importante se ele se transforma em orientador, em contextualizador das questões dos alunos.
Um enfoque diferente do modelo de teleaula poderia inverter o processo. Pode ser um ponto de chegada e não só um ponto de partida da informação. Os alunos tomam contato com um assunto a partir de alguns materiais prévios (impressos, em áudio e vídeo), realizam algumas atividades de compreensão e pesquisa individualmente e em grupo. Discutem essas questões com os tutores e encaminham os resultados da pesquisa e as questões principais para o professor que na teleaula avalia todo o processo e traz contribuições específicas para aqueles grupos naquele momento.
Quanto à organização curricular, predomina o modelo disciplinar, mas também se trabalha por módulos. Algumas trabalham uma disciplina por vez (em geral, uma por mês), enquanto outras alternam duas disciplinas, para dar mais variedade para o aluno (a avaliação parcial, costuma ser bimestral e ao fim do semestre é feita a avaliação de todas as disciplinas. As que organizam as disciplinas sequencialmente costumam fazer uma avaliação presencial ao termino de cada uma (em média, uma vez por mês) e evitam a avaliação geral semestral. Houve até agora predomínio na avaliação presencial da múltipla escolha. Atualmente predominam as questões dissertativas. Algumas instituições combinam questões objetivas com questões dissertativas. A avaliação presencial sempre tem um peso maior (exigência do MEC) e varia entre 60 e 80 por cento do valor da nota ou conceito final. Os alunos são avaliados nas atividades a distância e em sala. Existem atividades que são preparatórias para a avaliação online principal. Duas são mais freqüentes:  a qualidade da contribuição aos fóruns e o portfólio eletrônico ou físico, que recolhe os principais trabalhos desenvolvidos.
No sistema modular, Em geral, desenvolvem-se três módulos por semestre. Cada módulo com dois ou três professores. Um módulo, em média, trabalha quatro temas. São utilizados em algumas instituições que trabalham por módulos, de 6 a 8 professores por semestre.
  1. O modelo WEB
Hoje quase todos os cursos superiores a distância utilizam a Internet em algum momento, mas há instituições que têm na Internet o principal suporte. Os cursos de curta duração podem ser realizados inteiramente online, já nos superiores, principalmente de graduação, há hoje uma forte pressão pelo modelo-semipresencial.
O modelo WEB foca o conteúdo disponibilização pela Internet e por CD ou DVD também. Além do material na WEB os alunos costumam ter material impresso por disciplina ou módulo. Os ambientes principais de aprendizagem são o Moodle, o Blackboard e o Teleduc. Algumas instituições têm o seu próprio ambiente digital de aprendizagem. Começa-se a utilizar a webconferência para alguns momentos de interação presencial com os alunos, para orientações, dúvidas e manutenção de vínculos afetivos.
Até agora temos basicamente dois modelos diferentes de ensino superior a distância via web: o modelo mais virtual e o modelo semi-presencial. No modelo virtual, a orientação dos alunos é feita à distância pela Internet ou telefone. Os alunos se reportam ao professor e ao tutor durante o semestre e geralmente se encontram presencialmente só para fazer as avaliações. É um modelo predominantemente onde tudo acontece na Internet e os encontros presenciais são mais espaçados, porque não existem os pólos para o apoio semanal.
No modelo semi-presencial, como os do Consórcio CEDERJ das universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro, os alunos têm pólos perto de onde moram e, além do tutor online, têm o tutor presencial no pólo, com quem pode tirar dúvidas e participar das atividades solicitadas e dos laboratórios de informática e específicos do curso. Esse modelo é replicado pelas universidades públicas, sob a gestão da UAB – Universidade Aberta do Brasil, que fazem parceria com as prefeituras para a instalação dos pólos de apoio presenciais.
Nesta fase de regulação maior da EAD, há uma pressão forte para que todas as instituições que atuam no ensino superior a distância, principalmente na graduação, revejam seus projetos pedagógicos e se adaptem ao modelo semi-presencial, com pólos presenciais mais estruturados e atuantes, de acordo com as normas legais atuais, que se expressam nos instrumentos de credenciamento, autorização de cursos a distância e de autorização de pólos. As instituições que atuam no modelo de atendimento online via WEB, utilizando os pólos para avaliação presencial, terão que adaptar-se a estas normas – enquanto não houver mudanças - para obter o recredenciamento ou o reconhecimento dos cursos.
  1. O modelo videoaula
Há instituições no ensino superior cujo projeto pedagógico foca mais a produção audiovisual e impressa pronta, não ao vivo. Produzem as aulas em estúdio, com mais ou menos profissionalismo.
Também há dois modelos predominantes utilizando a videoaula, um semi-presencial e outro online.
O modelo mais usual é o de tele-salas, onde o aluno vai presencialmente uma ou várias vezes por semana e um tutor  supervisiona a exibição do vídeo e as atividades relacionadas ao conteúdo da disciplina. Tira dúvidas, sob a coordenação de um professor responsável por essa disciplina. Este modelo é muito útil principalmente para cidades pequenas, sem condições para a instalação de uma instituição de ensino superior presencial.
Outro modelo é com vídeoaulas que os alunos acessam via WEB ou recebem por cd ou DVD. Os alunos assistem as videoaulas em casa ou no trabalho, lêem o material impresso e fazem as atividades que são entregues a um tutor –on line, num ambiente de aprendizagem digital, em geral o Moodle. Os alunos só vão a um pólo para a avaliação online. Os modelos de videoaula que utilizam mais a WEB – em geral o Moodle – como ambiente de aprendizagem e de interação, precisam rever o seu projeto à luz das normas atuais legais, focando muito mais o apoio também local ao longo do curso e não só na avaliação.
As exigências atuais de infra-estrutura do MEC de pólos com muito mais recursos, dificultam o atendimento a essas pequenas populações. Os alunos terão que se deslocar muito mais do que antes.
O modelo semi-presencial é muito utilizado nos cursos de pedagogia e licenciaturas. Ele precisa adaptar-se também, como os anteriores, às normas vigentes. A infra-estrutura de apoio administrativa, tecnológica e acadêmica, costuma ser precária, com poucos computadores, biblioteca diminuta, o tutor sozinho com os alunos.
Algumas questões do ensino superior a distância no Brasil
Só um modelo é válido?
Se em outros países, com mais tradição em EAD, como a Inglaterra, a Espanha, a Austrália há diversos modelos, se cada universidade pode definir sua forma de atuar em EAD e os resultados, nas principais universidades, são satisfatórios, por que nós devemos centrar-nos num modelo semi-presencial como condição indispensável para o reconhecimento legal?
O Prof. Vianney mostra que os alunos da Open University conseguem ser classificados entre os das cinco melhores instituições Inglaterra, e as diversas faculdades têm bastante flexibilidade para organizar os diversos cursos a distância. (Vianney, 2008). A Open University atua desde a década de setenta e escolhe bons professores para escrever e gerenciar os seus cursos. A diversidade metodológica não é obstáculo. O importante é ter um bom projeto pedagógico e bons professores, com boas condições de trabalho.
Num estudo feito pelo Prof. Dilvo Ristoff , quando diretor do INEP, comparou o desempenho dos alunos dos mesmos cursos nas modalidades a distância e presencial do ENADE (2005-2006). Em sete das 13 áreas onde essa comparação é possível, alunos da modalidade a distância se saíram melhor do que os demais. Quando a análise é feita apenas levando em conta os alunos que ainda estão na fase inicial do curso - o Enade permite separar o desempenho de ingressantes e concluintes-, o quadro é ainda mais favorável ao ensino a distância: em nove das 13 áreas o resultado foi melhor. Nesses casos, turismo e ciências sociais apresentaram a maior vantagem favorável aos cursos a distância. Geografia e história foram os cursos em que o ensino presencial apresentou melhor desempenho.
Na Alemanha, o professor Wolfram Laaser da FernÜniversitat da Alemanha, em palestras na Universidade Federal de Santa Catarina, mostra que comparando as trajetórias profissionais dos alunos concluintes presenciais e a distância, após vinte anos, numa mesma organização, os que tinham feito seus cursos a distância ocupavam funções mais destacadas. Os fatores considerados para compreender este fenômeno eram os da autonomia e da determinação necessária aos alunos para poder acompanhar as exigências de estudos autônomos, característica dos cursos a distância daquela universidade. (Vianney, 2008).
O MEC, preocupado com a qualidade, propõe parâmetros para organizar um processo em expansão rápida e com algumas instituições com mais preocupação mercadológica do que pedagógica. Isso é fundamental, mas está insistindo no modelo semi-presencial, apoiado por pólos locais, com freqüência semanal dos alunos, como o único válido atualmente. É preocupante.
É possível aprender a distância de várias formas. No Brasil, estamos ainda numa fase de mudanças profundas na educação a distância, pela evolução rápida das tecnologias em rede, das tecnologias móveis e pela necessidade de incluir o maior número de alunos possível no ensino técnico e no superior. Num país com tantas necessidades e diversidade, é importante poder ter projetos consistentes com propostas diferentes, que sejam bem acompanhados e avaliados.
Tensões entre o econômico e o pedagógico
Há muitas contradições e tensões na educação. As principais se devem a que em alguns momentos focamos a educação mais como direito – educação para todos – enquanto que, em outros, o foco é a educação como negócio – como bem econômico, serviço, que se compra e vende, se organiza como empresa e onde se busca a maior rentabilidade, lucro e retorno do investimento.
Há instituições que vêem a EAD mais como negócio, mercado e investimento e todos os esforços são direcionados para a ocupação rápida do mercado, para a rentabilidade máxima dos acionistas, para ter um baixo custo aluno. Há instituições que focam o curto prazo e outras, o longo prazo. Em educação o sucesso de curto prazo pode ser traiçoeiro, porque projetos que atraem muitos alunos, se mal avaliados, afastam novas inscrições.
Estamos numa fase de profundas transformações, que nos estão levando a re-organizar todos os processos de ensino e aprendizagem, incluindo atividades a distância, flexibilidade curricular, possibilidade de cursos online em qualquer lugar e a qualquer hora. Se predominar a concepção administrativa sobre a pedagógica, poderemos criar com tecnologias novas processos velhos ampliados. Há uma certa apropriação das tecnologias avançadas hoje para a multiplicação de processos conservadores, focados no conteúdo transmitido ou disponibilizado, pela substituição do professor pelo “tutor” (mais barato) e pelo enxugamento de custos e maximização de lucros.
É importante estarmos atentos como educadores e como sociedade a re-equilibrar a educação como direito e como negócio, a buscar inovações na gestão, mas com foco na aprendizagem significativa, humanística, afetiva e com valores sólidos. Temos que inovar, avançar, criar uma educação mais próxima do aluno de hoje e das possibilidades de uma sociedade conectada, mantendo os valores humanos, afetivos e éticos cada vez mais vivos e predominantes. Podem conviver a  educação como direito e como negócio, de forma equilibrada. Mas é bom estarmos atentos como sociedade a que a racionalidade administrativa não se sobreponha à pedagógica. 
A exigência da avaliação presencial
 Uma questão que precisa ser melhor analisada é a exigência legal de que a avaliação principal de um curso a distância seja presencial e que tenha um peso maior do que as avaliações feitas durante o curso.  Em primeiro lugar, focar o peso da avaliação num momento presencial contradiz os projetos pedagógicos de muitos cursos que se dizem construtivistas e interacionistas, e que afirmam que o importante é a avaliação em processo (formativa) e não a pontual (somativa). E, em segundo lugar, se evidencia uma contradição gritante e preconceito contra a educação a distância ao exigir que num curso a distância a avaliação seja presencial. Entendemos os motivos das possibilidades de fraude a distância, assim como os há também no presencial, mas não se pode impedir – legalmente - que um curso a distância possa ser totalmente online, como acontece em muitos países. Hoje há recursos confiáveis de verificação e de acompanhamento digital dos alunos. (Silva; Silva, 2008)
O curioso é que muitas instituições não estão de acordo com a necessidade das avaliações serem presenciais, mas as reduzem a provas de múltipla escolha. O MEC fala em avaliações presenciais, não em provas necessariamente. Poderiam ser realizadas, nesses momentos presenciais, diferentes atividades como seminários, apresentação de resultados de projetos, discussões orais e muitas outras, além de provas. 
Para onde caminhamos no ensino superior
Estamos diante de muitas mudanças, em uma fase em que temos que repensar a educação como um todo, em todos os níveis e a legislação da educação a distância é bastante detalhista e restritiva. Precisamos ter sensibilidade legal para evitar uma asfixia burocrática numa fase de grandes mudanças, e ao mesmo tempo sinalizar alguns limites para cada momento histórico. Estamos numa área onde conceitos como o de espaço, tempo, presença (física/virtual) são muito mais complexos e que exigem uma atenção redobrada para superar modelos convencionais, que costumam servir como parâmetro para avaliar situações novas.
Estamos caminhando para uma etapa de uma integração muito maior entre o presencial e o virtual. Algumas instituições já perceberam que a flexibilidade é inevitável. Propõem cursos que podem ser feitos presencialmente ou a distância, com maior integração e, às vezes, sem que o aluno perceba que é um curso a distância. Os cursos presenciais terão cada vez mais atividades a distância em proporção superior à atual, de forma que perderá sentido a separação entre o presencial e o a distância, como acontece até agora.
O semi-presencial é o modelo mais viável para a maioria das escolas nos próximos anos para alunos que moram perto do campus. Em todos os níveis de ensino teremos momentos juntos e atividades personalizadas de inserção em projetos, práticas, pesquisa combinadas com atividades de interação, de colaboração. Todas as universidades e organizações educacionais, em todos os níveis, precisam experimentar novas soluções para cada situação, curso, grupo e os legisladores serem cautelosos na normatização para não inviabilizar os avanços necessários na EAD.
Dependendo do projeto pedagógico do curso, da instituição, da idade do aluno haverá diferentes formatos de curso, níveis de flexibilidade, de orientação. Mas todos terão muitos menos presença física do que há hoje, menos horários rígidos como acontece atualmente.
O semi-presencial avançará, porque se adapta muito mais à nova sociedade aprendente, conectada; porque as crianças e jovens já têm uma relação com a Internet, as redes, o celular e a multimídia muito mais familiar do que os adultos. O semi-presencial já é uma experiência vivida em muitas outras situações por eles. A escola é que não os está acompanhando. O semi-presencial avançará também porque para os mantenedores das escolas reduzirá custos de utilização de infra-estrutura, de ocupação de espaço, de horas aula de professores. E a legislação precisa possibilitar esta flexibilidade das formas de ensino e aprendizagem que mais se adaptem às necessidades de cada pessoa e grupo em todos os níveis de ensino.
A legislação não consegue prever essas mudanças. Por isso é importante permitir propostas inovadoras, acompanhá-las, avaliá-las para poder avançarmos mais rapidamente. A legislação pode trabalhar com parâmetros, princípios – em decretos - sem chegar a minúcias que podem trazer problemas de interpretação e impedir avanços significativos e que podem ser normatizados em portarias.. Precisamos regular com mais abertura para o novo e supervisionar o que acontece mais de perto para avançar de verdade e separar o joio do trigo, os que querem contribuir para um ensino e aprendizagem de qualidade dos que só querem lucrar com qualquer tipo de ensino, seja presencial ou a distância.
A educação a distância está se transformando, de uma modalidade complementar ou especial para situações específicas, em referência para uma mudança profunda do ensino superior como um todo. Este utilizará cada vez mais metodologias semi-presenciais,  flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos de ensino e aprendizagem. A educação a distância está se expandindo, sem dúvida, mas também afetando profundamente à educação como um todo. Num mundo conectado em redes, onde aumenta a mobilidade, a educação a distância hoje passou de uma modalidade complementar a ser eixo norteador das mudanças profundas da educação como um todo, principalmente no ensino superior.

 

Referências

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A distância e o presencial cada vez mais próximos

A distância e o presencial cada vez mais próximos
José Manuel Moran.
Folha Dirigida: Terça-Feira, 25 de Maio de 2010
http://ead.folhadirigida.com.br/?p=2343
Paulo Chico
Fascinado pela educação a distância e suas possibilidades, José Manuel Moran veio de longe. Nascido em Vigo, na Espanha, cruzou o Atlântico e tornou-se um dos mais respeitados especialistas no uso de tecnologias aplicadas aos processos de aprendizagem. É disso que trata esta entrevista, que tem como foco a instalação da internet banda larga na quase totalidade das escolas públicas do Brasil, meta anunciada pelo Governo federal.
Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e Diretor do Centro de EAD da Universidade Anhanguera-Uniderp, Moran é autor de diversos livros, como A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, pela Papirus Editora, e que acaba de chegar à 3ª edição. Qualificação dos professores, recursos de ambientes virtuais, redes de colaboração e riscos do mau uso da internet foram alguns dos temas abordados pelo educador que, defensor das interações humanas como combustível para a aprendizagem, vê fragilizada a fronteira entre o que é presencial e o que se acredita a distância.
“Uma boa escola precisa de professores mediadores, vivos, criativos, experimentadores, presenciais e virtuais. De mestres menos falantes, e mais orientadores. Precisamos de uma escola que fomente redes de aprendizagem, entre professores e entre alunos. Onde todos possam aprender com os que estão perto e longe, conectados audiovisualmente. Aprender em qualquer tempo e qualquer lugar, de forma personalizada e, ao mesmo tempo, colaborativa”, afirma.
 
Meta do governo federal é de que, até o final deste ano, 92% da população escolar brasileira estejam atendidas por internet banda larga. O que essa medida representa?
Esse é um passo importante para que as escolas possam ter acesso à internet, às redes e à mobilidade. Inicialmente o plano governamental era que todas as escolas tivessem acesso a um laboratório conectado à internet. Mas, com a banda larga, será possível ampliar o acesso, transformando salas de aula, bibliotecas, pátios e outros espaços em lugares de aprendizagem flexível e compartilhada.

Isso de fato é prioridade no cenário da educação brasileira? Não há outras deficiências básicas mais urgentes?
Na educação há muitas frentes importantes. Posso destacar algumas, como as políticas de formação, para atrair os melhores professores, remunerá-los bem e qualificá-los melhor; as políticas inovadoras de gestão, que consistem em levar os modelos de sucesso de gestão da iniciativa privada para a educação básica; o forte apoio ao ensino técnico e tecnológico, integrando-os melhor, de forma que um aluno possa profissionalizar-se antes e ao mesmo tempo seguir um currículo superior mais próximo do que a sociedade necessita; e, por fim, o incentivo a parcerias público-privadas eficientes e constantes, com maior integração de programas e recursos econômicos e tecnológicos.
Como as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) entram nesse pacote?
A inserção no mundo das tecnologias conectadas é um caminho importante para preparar as pessoas para o mundo atual, para uma sociedade complexa, que exige domínio das linguagens e recursos digitais. Em educação não podemos esperar que todos os outros problemas sejam equacionados, para só depois ingressar nas redes. Escolas não conectadas são escolas incompletas, mesmo quando didaticamente avançadas. Alunos sem acesso contínuo às redes digitais estão excluídos de uma parte importante da aprendizagem atual: do acesso à informação variada e disponível de forma online, da pesquisa rápida em bases de dados, bibliotecas digitais, portais educacionais. Estão fora da participação em comunidades de interesse, de debates e publicações online. Enfim, da variada oferta de serviços digitais.
Quais ações correlatas devem ser tomadas para que a informatização das escolas surta o efeito desejado, com salto na qualidade do ensino?Informatização é mais do que colocar computadores. É conectar todos os espaços e elaborar políticas de capacitação dos professores, gestores, funcionários e alunos para a inserção das tecnologias no ensino e aprendizagem de forma inovadora, coerente e enriquecedora. Os projetos pedagógicos precisam refletir essa integração horizontal e vertical com o currículo. As tecnologias digitais facilitam a pesquisa, a comunicação e a divulgação em rede. Temos as tecnologias mais organizadas, como os ambientes virtuais de aprendizagem – Moodle e semelhantes – que permitem que tenhamos um certo controle de quem acessa o ambiente e do que precisa ser feito nas etapas de cada curso. Além desses ambientes, há um conjunto de tecnologias, que denominamos popularmente de 2.0, que são mais abertas, fáceis e gratuitas, como blogs, podcasts, wikis… Nesses espaços, os alunos podem ser protagonistas dos seus processos de aprendizagem. E isso facilita a aprendizagem horizontal, isto é, dos alunos entre si, das pessoas em redes de interesse. A combinação dos ambientes mais formais com os informais, feita de forma integrada, nos permite a necessária organização dos processos com a flexibilidade da adaptação ao perfil de cada aluno.
De forma prática, como as tecnologias devem ser exploradas? Qual seu uso mais racional e eficaz nas escolas?
O ideal é que estas tecnologias Web 2.0 – gratuitas, colaborativas e fáceis – façam parte do projeto pedagógico da instituição para serem incorporadas como parte integrante da proposta de cada série, curso ou área de conhecimento. Quanto mais a instituição incentiva o trabalho com atividades colaborativas, pesquisas, projetos, mais elas se tornarão importantes. Podem ser utilizadas também para produzir conteúdos interessantes e deixar para o professor o papel de organização das atividades, de discussão, orientação, apresentação dos resultados e sua publicação pelos alunos. Com boas propostas no começo de cada semestre, as possibilidades de motivação dos alunos e professores aumentarão, sem dúvida.
Sem treinamento ou direcionamento pedagógico, o uso da internet pode trazer prejuízos?
A internet é uma projeção de tudo que o ser humano faz de bom e de ruim. Ela tem tudo de mais interessante, resolve um monte de problemas, como pagar contas sem filas. Tem mil vantagens de comodidade de acesso. Ao mesmo tempo, o ser humano coloca ali diversas aberrações, tanto do imaginário quanto das situações reais. Na internet há o acesso à informação para a qual o aluno pequeno não está preparado, na área da sexualidade, pornografia e violência. Isso sempre existiu, mas a internet escancarou a facilidade de acesso. A solução não está principalmente em bloquear ou em não falar disso. Temos que aprender a lidar com as tecnologias. Orientar, acompanhar, porque uma criança pode envolver-se em situações complicadas. A criança, quando percebe que os pais e professores confiam nela e se preocupam, mostra quais sites costuma visitar, ou logo aponta alguma situação anormal. A internet é um meio rico de possibilidades e de problemas. E a escola é um espaço privilegiado de aprendizagem a saber fazer essas escolhas.
Como qualificar os professores? Por que ações neste sentidos caminham em passos tão lentos no Brasil?
O professor demora em torno de dois anos – numa pesquisa feita na França – para dominar as tecnologias e poder utilizá-las no seu planejamento e avaliação. Há um longo caminho de aprendizagem como usuário e depois como educador. O importante é começar com recursos simples – um blog, por exemplo – e ir tornando mais complexas as atividades, aos poucos, para que se sinta seguro de que faz sentido o que está se propondo. Não basta só ser moderninho. O importante é que o aluno aprenda cada vez mais.
Onde o professor, por vezes abandonado pelas políticas públicas, pode buscar informações sobre inclusão digital?O Portal do Professor do MEC e alguns portais educacionais, como o Diaadiaeducação, da Secretaria de Educação do Paraná, são excelentes para conhecer o que é feito, realizar cursos básicos e encontrar materiais e atividades importantes em diversas áreas de conhecimento.

O professor já percebeu que não é mais a única fonte do saber para os estudantes? Esse tem sido um processo traumático para os educadores?Uma boa escola depende fundamentalmente de contar com gestores e educadores bem preparados, remunerados, motivados e que possuam comprovada competência intelectual, emocional, comunicacional e ética. Sem bons gestores e professores nenhum projeto pedagógico será interessante, inovador. Não há tecnologias avançadas que salvem maus profissionais. São poucos os educadores e gestores pró-ativos, que gostam de aprender e conseguem colocar em prática o que aprendem. Temos muitos profissionais que preferem repetir modelos, obedecer, seguir padrões. Sem pessoas autônomas é muito difícil ter uma escola diferente, mais próxima dos alunos que já nasceram com a internet e o celular. Uma boa escola precisa de professores mediadores, vivos, criativos, experimentadores, presenciais e virtuais. De mestres menos ‘falantes’, mais orientadores. De menos aulas informativas e mais atividades de pesquisa, e experimentação. Desafios e projetos. Uma escola que fomente redes de aprendizagem, entre professores e entre alunos. Onde todos possam aprender com os que estão perto e também longe, conectados. Onde os mais experientes possam ajudar aqueles que têm mais dificuldades. O futuro será aprender em qualquer tempo e lugar, de forma personalizada e, ao mesmo tempo, colaborativa. Teremos flexibilidade curricular e facilidade de estarmos juntos, conectados audiovisualmente.

Propostas para melhorar nossa educação a distância

Propostas para melhorar nossa educação a distância
Diretor de Educação a Distância da Universidade Anhanguera-Uniderp
Especialista em mudanças na educação presencial e a distância

A educação a distância está se transformando, de uma modalidade complementar ou especial para situações específicas, em referência para uma mudança profunda na educação como um todo. É uma opção importante para aprender ao longo da vida, para a formação continuada, para aceleração profissional, para conciliar estudo e trabalho.

Ainda há resistências e preconceitos e ainda estamos aprendendo a gerenciar processos complexos de EAD, mas aumenta a percepção de que um país do tamanho do Brasil só pode conseguir superar sua defasagem educacional através do uso intensivo de tecnologias em rede, da flexibilização dos tempos e espaços de aprendizagem, da gestão integrada de modelos presenciais e digitais.

A educação a distância está modificando todas as formas de ensino e aprendizagem, inclusive as presenciais, que utilizarão cada vez mais metodologias semi-presenciais,  flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos, as mídias, as linguagens e os processos. EAD tem significados muito variados, que respondem a concepções e necessidades distintas. Denominamos EAD à educação continuada, ao treinamento em serviço, à formação supletiva, à formação profissional, à qualificação docente, à especialização acadêmica, à complementação dos cursos presenciais.

A EAD é cada vez mais complexa, porque está crescendo em todos os campos, com modelos diferentes, rápida evolução das redes, mobilidade tecnológica, pela abrangência dos sistemas de comunicação digitais. Existem modelos bem diferentes que respondem a concepções pedagógicas e organizacionais distintas. Temos desde modelos auto-instrucionais a modelos colaborativos; modelos focados no professor (teleaula), no conteúdo, a outros centrados em atividades e projetos. Temos modelos para poucos alunos e modelos de massa para dezenas de milhares de alunos. Temos cursos com grande interação com o professor e outros com baixa interação. E não é fácil pensar em propostas que atendam a todas estas situações tão diferentes.
Há um crescimento gigantesco dos cursos por satélite com teleaulas ao vivo e um tutor ou monitor presencial por sala, em pólos, mais apoio da Internet e de tutoria online. Essas instituições estão crescendo rapidamente chegando a dezenas de milhares de alunos rapidamente. É um modelo que mantém a figura do professor e a flexibilidade da auto-aprendizagem. Há cursos que combinam material impresso, CD/DVD e Internet. Há cursos para poucos e muitos alunos; cursos com menos ou mais encontros presenciais.

Podemos avançar muito na personalização das propostas, mais abertas, com forte aprendizagem colaborativa, em redes flexíveis e respeito ao caminho de cada um. Na EAD o aluno poderia ter seu orientador, como acontece na pós-graduação. Esse orientador seria o principal interlocutor responsável pelo percurso do aluno, com ele definiria as disciplinas mais adequadas, as atividades mais pertinentes, os projetos mais relevantes. Teremos cursos mais síncronos e outros mais assíncronos, alguns com muita interação e outros com roteiros predeterminados, uns com mais momentos presenciais enquanto que outros acontecem na WEB. Essa flexibilidade de processos e modelos é fundamental para avançar mais, para adequar-nos às inúmeras possibilidades e necessidades de formação contínua de todos.

Diante da dificuldade muitos alunos em adaptar-se ao processo de aprendizagem a distância, vale a pena pensar em propostas que implantem a metodologia da EAD de forma mais progressiva. Cursos a distância com alunos com maiores dificuldades (em média) de autonomia - ex: EJA, cursos técnicos, tecnológicos, graduação de cursos com alunos com pouca fluência de leitura, escrita e pouca independência pessoal - poderiam ter um processo de entrada mais suave na EAD. Começar com uma ambientação tecno-pedagógica para a EAD mais forte, feita presencialmente em parte, em laboratórios, com bastante mediação tutorial.

O primeiro ano desses cursos teria uma carga horária presencial maior do que a habitual, haveria mais encontros presenciais, mais tutoria local, mais aulas ao vivo junto com as demais atividades online, só que em quantidade menor, nesse primeiro ano.
Com esse ano de transição entre o modelo presencial e o a distância, o aluno estaria melhor preparado para enfrentar os desafios de caminhar para uma maior autonomia, para poder gerenciar melhor o seu tempo, para trabalhar mais virtualmente. Assim, a partir do segundo ano, aumentaria a virtualização do curso, com menos encontros e tutoria presenciais e mais orientação e atividades pela WEB.

No primeiro ano, as aulas seriam mais informativas, ao vivo ou por videoaulas fáceis, com histórias, representações, entrevistas. As atividades poderiam ser feitas em pequenos grupos presencial e virtualmente, para aprender juntos, dar-se apoio, manter vínculos, não desistir. Progressivamente haveria mais leituras, atividades mais complexas individuais e em grupo, pela WEB.

Cursos de formação de professores, que hoje utilizam mais a WEB, poderiam incorporar videoaulas ou teleaulas interessantes e motivadoras, como elementos enriquecedores da experiência de aprender online. Os cursos que se baseiam em textos na web, mesmo que bem produzidos e em tom dialógico, exigem um salto cultural grande demais, num primeiro momento, para alunos vindo de escolas pouco exigentes e que não desenvolveram o hábito da pesquisa contínua e produção autônoma.

É interessante a organização de aulas produzidas de forma mais inteligente e econômica, principalmente na formação de professores. As universidades públicas, através da gestão da UAB – Universidade Aberta do Brasil – poderiam criar materiais, principalmente os audiovisuais, de forma integrada, gastando menos recursos na produção e concentrado-os mais na tutoria e na adaptação à realidade regional. Universidades com mais competência reconhecida em algumas áreas fariam essas produções de videoaulas e do material de apoio básico (livros...) que serviriam de base para os cursos semelhantes de outras instituições e que poderiam ter algumas adaptações regionais, aproveitando a maior parte da produção já feita.

Em EAD não precisamos todos fazer tudo. A especialização pode baratear enormemente os custos, sem diminuir a qualidade. Esses materiais poderiam estar disponíveis no portal do Ministério para todas as instituições públicas e privadas. O dinheiro de educação é pago com os nossos impostos e se um material pode ser útil para muitos, por que não disponibilizá-lo? A educação a distância não é só conteúdo pronto, mas conhecimento construído a partir de leituras, discussões, vivências, práticas, orientações, atividades. Disponibilizaríamos os materiais básicos e cada instituição os adaptaria ao seu projeto pedagógico. Por que todos temos que fazer os mesmos materiais sempre de forma isolada, principalmente na formação de professores?

Nos cursos presenciais poderíamos também flexibilizar a relação presencial-digital de forma progressiva. No primeiro ano, as atividades aconteceriam mais na sala de aula. Haveria uma ênfase maior na aprendizagem do uso das tecnologias digitais feito no laboratório até o aluno ter o domínio do virtual e poder fazê-lo a distância. Algumas disciplinas teriam no máximo, nesse primeiro ano, vinte por cento de atividades a distância. Do segundo ano em diante, a porcentagem de EAD poderia aumentar até chegar a metade em sala de aula e metade a distância (sem ultrapassar a carga total de vinte por cento a distância, enquanto não mudar a legislação vigente).
 Nos modelos WEB é importante utilizar mais a videoaula, a teleaula, a web-conferência e o uso também de tecnologias móveis.

Nos modelos teleaula convém ter menos aulas expositivas e melhorar a produção, combinada com atividades significativas em sala e na WEB. Nestes modelos precisamos aproveitar melhor os recursos da WEB e as tecnologias móveis.
Caminhamos rapidamente para poder aprender em qualquer lugar, a qualquer hora e de muitas formas diferentes. Aprender quando for conveniente, com ou sem momentos presenciais, mas sempre com a possibilidade de estarmos juntos, de aprender colaborativamente e de construir roteiros pessoais. Com a riqueza de mídias, tecnologias e linguagens, podemos integrar conteúdo, interação, produção tanto individual como grupal do modo mais conveniente para cada aluno e para todos os participantes.
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Texto baseado em Modelos e avaliação do ensino superior a distância no Brasil, da minha autoria e publicado na Revista ETD – Educação Temática Digital da Unicamp, Vol. 10, Nº 2, 2009.

A educação a distância como opção estratégica

A educação a distância como opção estratégica

Especialista em mudanças na educação presencial e a distância


A educação a distância, antes vista como uma modalidade secundária ou especial para situações específicas, destaca-se hoje como um caminho estratégico para realizar mudanças profundas na educação como um todo. É uma opção cada vez mais importante para aprender ao longo da vida, para a formação continuada, para a aceleração profissional, para conciliar estudo e trabalho.
Ainda há resistências e preconceitos e ainda estamos aprendendo a gerenciar processos complexos de EAD, mas um país do tamanho do Brasil só pode conseguir superar sua defasagem educacional através do uso intensivo de tecnologias em rede, da flexibilização dos tempos e espaços de aprendizagem, da gestão integrada de modelos presenciais e digitais.
A educação a distância está modificando todas as formas de ensinar e aprender, inclusive as presenciais, que começam a utilizar cada vez mais metodologias semi-presenciais,  flexibilizando a necessidade de presença física, reorganizando os espaços e tempos, as mídias, as linguagens e os processos.
A EAD é cada vez mais complexa, porque está crescendo em todos os campos, com modelos diferentes, rápida evolução das redes, mobilidade tecnológica, pela abrangência dos sistemas de comunicação digitais.
Temos a EAD com alta escalabilidade, que se expande nacional e internacionalmente, atendendo a cada vez mais alunos, em mais cidades, perto de onde o aluno está. Elabora e desenvolve modelos adaptados a um grande número de alunos, com variedade de oferta, custos diluídos. Este é o caminho de alguns poucos grandes grupos e marcas, que detêm mais da metade de todos os alunos.
As características deste modelo de massa são: Quantidade, escalabilidade, atendimento a muitos ao mesmo tempo, abrangência nacional e internacional, produto interessante para a maioria, bem dimensionado e aceito, preço baixo, fortes ações de captação e marketing.
Temos também a EAD para atendimento de segmentos específicos, regionais ou temáticos. As instituições atuam em áreas com competência comprovada. Focam públicos definidos. É a opção viável para a maior parte das instituições.
Um caminho possível e até agora não bem sucedido é o de participar de consórcios e parcerias. Já foi tentado várias vezes. É importante, mas não fácil de conseguir, depende de sinergia de valores e capacidade de gerenciar diferenças pessoais e institucionais. Só parcerias bem sucedidas podem enfrentar, a médio prazo, os grandes grupos que atuam nacionalmente.
Mudanças perceptíveis na educação a distância
- Maior “presencialidade” digital, audiovisual, seja ao vivo – teleaula ou gravação em webaula. Os modelos vencedores mostram muito mais o professor, criam vínculos com a sua imagem e palavra.
- Maior flexibilidade de processos, comunicação quando necessário, equilíbrio entre o percurso pessoal e a interação grupal. Integração de ambientes formais digitais, que permitem o controle acadêmico, com ferramentas abertas, redes sociais.
- Produção digital predominante, e-books com toda a riqueza de vínculos, imagens, vídeos, conexões, mobilidade. A migração para o digital, mesmo num país com tantas contradições, é inexorável, pelo barateamento de custos, diminuição de custos de transporte, facilidade de atualização.
- Avaliação digital, nos momentos presenciais exigidos.  É complicado, caro e inseguro realizar as avaliações presenciais em papel e enviá-las pelo correio para serem corrigidas na sede da instituição. Como até o momento há uma exigência legal de avaliação presencial no Brasil nos cursos superiores autorizados, pode ser feita com provas digitais feitas em laboratório, com supervisão de tutores presenciais e programas de segurança e identificação dos alunos. Podem ser aplicadas diferentes provas, de um banco de questões, com o mesmo grau de dificuldade.
Podemos avançar muito na personalização das propostas, mais abertas, com forte aprendizagem colaborativa, em redes flexíveis e respeito ao caminho de cada um. Em cursos de longa duração, como os da graduação, o aluno poderia ter seu orientador, como acontece na pós-graduação. Esse orientador seria o principal interlocutor responsável pelo percurso do aluno, com ele definiria as disciplinas mais adequadas, as atividades mais pertinentes, os projetos mais relevantes. Teremos cursos mais síncronos e outros mais assíncronos, alguns com muita interação e outros com roteiros predeterminados, uns com mais momentos presenciais enquanto que outros acontecem na WEB. Essa flexibilidade de processos e modelos é fundamental para avançar mais, para adequar-nos às inúmeras possibilidades e necessidades de formação contínua de todos.
Diante da dificuldade de muitos alunos, com pouca autonomia intelectual, em adaptar-se ao processo de aprendizagem a distância, poderiam ter um processo de entrada mais suave na EAD. Começar com uma ambientação tecno-pedagógica mais forte, feita presencialmente em parte, em laboratórios, com bastante mediação tutorial.
O período inicial desses cursos teria uma carga horária presencial um pouco maior do que a habitual e as atividades digitais mais supervisionadas. Com essa transição mais suave entre o modelo presencial - a que os alunos estão habituados - para o a distância, eles não desistiriam tanto nessa primeira etapa nem estranhariam tanto todas as mudanças.
Estamos diante de muitas mudanças, em uma fase em que temos que repensar a educação como um todo, em todos os níveis e a legislação da educação a distância é bastante detalhista e restritiva. Precisamos ter sensibilidade legal para evitar uma asfixia burocrática numa fase de grandes mudanças, e ao mesmo tempo sinalizar alguns limites para cada momento histórico. Estamos numa área onde conceitos como o de espaço, tempo, presença (física/virtual) são muito mais complexos e que exigem uma atenção redobrada para superar modelos convencionais, que costumam servir como parâmetro para avaliar situações novas.

A integração entre o presencial e a distância: mudança estratégica no ensino superior
Para que as instituições grandes e pequenas possam continuar no ensino superior, é importante que assumam o mesmo modelo de currículo e oferta no presencial e no EAD.  Que elaborem um projeto estratégico único e integrado, que permita a sinergia entre equipes, metodologias, conteúdo, infraestrutura, marketing.
O caminho é o da convergência em todos os campos e áreas: prédios (EAD também dentro de unidades presenciais – pólos); integração de plataformas digitais; produção digital de conteúdo integrada (os mesmos materiais para as mesmas disciplinas do mesmo currículo).
Isso favorece a mobilidade de alunos e professores. Alunos podem migrar de uma modalidade para outra sem problemas, podem fazer algumas disciplinas comuns – alunos a distância e presenciais cursando disciplinas comuns. Professores podem participar das duas modalidades e ter maior carga docente. Isso permite maior interoperabilidade de processos, pessoas, de produtos e metodologias, com grande escalabilidade, visibilidade e redução de custos.  Os alunos poderão escolher o modelo que mais lhes convier, aprenderão mais e as instituições poderão oferecer um ensino de qualidade, moderno e dinâmico, a um custo competitivo.
Infelizmente predomina ainda, na maioria das instituições, a inércia de repetir ano após ano os mesmos modelos de organizar os processos acadêmicos, os currículos, a forma de dar aula, de avaliar. As mudanças são mais pontuais, periféricas, do que profundas.
A conjugação de inovação e redução de custos é poderosa e possível.  As instituições que implantam um modelo, que equilibre economia com inovação, serão vencedoras e avançarão muito mais rapidamente do que as que continuem repetindo, ano após ano, o modelo convencional.